Eu nunca soube como agir com a admiração que minha avó e meus tios depositavam em mim. Não era uma coisa boba de família. Eles sempre enxergavam o que eu poderia ser. Eu tinha 6 anos e estava fortemente convencido que eu poderia me tornar o discípulo de Jaspion no interior. Atrás da casa do tio Estevão, eu um belo dia, peguei um facão e sai destinado a provar todo o meu talento. Decepei quase metade de uma plantação de morango. Com golpes executados com tanto capricho que orgulhariam ao próprio Jaspion. A emoção tinha tomado conta de mim e perdi a noção do estrago que fiz. A mulher do meu tio descobriu, me deu uma primeira e tímida bronca. Lembro-me de ter recebido uma fila de broncas. Elas foram aumentando. Minha avó balançava a cabeça, falava de um jeito que enfim, eu entendi rapidamente a gravidade do que tinha feito.
Depois de toda bronca recebida, me afastei e me encolhi.
Minha avó chegou perto de mim, e me deu aquele olhar que até hoje não consigo descrever e me perguntou:
- Por que você fez isso, Dandan?
- Porque eu quero ser o Jaspion - respondi.
E nesse dia, minha infância foi cortada em duas. Antes e depois. Ela suavemente respondeu:
- Meu filho, você tem que ser o Jaspion do portão pra fora. Aqui dentro você finge que é Dandan, meu neto.
Eu passo o resto da minha vida tentando ser uma pessoa melhor por causa do olhar da Dona Angela. Mesmo ela não estando mais aqui. A minha memória ficou marcada com aquele olhar. Às vezes sou pego por essa agonia, tantas coisas aconteceram tentando ser o pequenino Jaspion... Às vezes sinto o tempo escorrendo pelos dedos, percebo que estou me distanciando da direção que aquele olhar apontava.
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