Enquanto o sono ia chegando, a chuva batia na
janela e entrava aos poucos molhando o chão do quarto.
Sentada na cama, a menina olhava com olhos
entristecidos cada gota que entrava sem pedir licença.
Não que estivesse triste por inteiro, mas essa
tristeza nos olhos fazia com que tudo a sua volta entristecesse também...
A gente tem mania de focar tanto na tristeza, que
até esquece de tudo que é felicidade.
É que a tristeza é mais fácil de sentir, vez ou
outra é tão forte e veloz, que envolve num abraço os nossos olhos. E quando
abraça os olhos, há apenas de se permitir condescender e esperar passar.
É que tudo na vida passa... - Até já perdi as
contas de quantas vezes deixaram um presente e soltaram as minhas mãos...
- mas enquanto não passa, a gente vê o
tempo enquanto pensa no que fazer pra esperar ou pra guardar em cima da mesinha
junto com o tanto de coisa que tem lá.
Ela via o tempo todos os dias...
É que ele costumava passear no quintal dela todas
as noites.
Era ali que se viam... Era só aí que ela conseguia
sentir o tempo perto, como se ele batesse em sua porta sem esperar autorização
pra entrar...
Naquela noite, no entanto, ele não apareceu.
"Deve ser porque choveu bastante",
pensava: "A chuva impediu que ele viesse".
"Mas o que tem a chuva”? É tempo! “E não
derrete como algodão doce e sal.”.
E assim, ficava sem entender porque por vezes tudo ficava
exageradamente entristecido e fechado como céu em dia nublado.
O céu decidiu chorar chovendo naquela noite...
E nós bem sabemos que existem dias que se colhe
flores... E outros que se plantam dores.
E da janela dela, aquela chuva poderia lavar qualquer
alma!
O tempo que andava se permitindo parar um pouco,
não apareceu naquela noite, mas mesmo que tivesse aparecido...
... Ela preferiria só olhar a chuva...
(A.Gouveia)