...
Então amanheceu mais um dia,
Mas
não era só do sono que despertara...
Ela
despertava pra vida... e despertar pra vida às vezes dói... ou quase nada.
Mas
nela doía. Doía aquela dor de dentro, de quem andou perdendo coisas e tempo
demais pelo caminho.
Doía
e ela nem queria que entendessem o que ela andava sentindo, já que nem ela
mesma entendia.
Pensou
uns dias... E decidiu juntar tudo que era dos dois e separou em momentos bons e
tristes que sentiu.
Guardou
em uma caixa as mágoas, as escolhas erradas, as esperas em vão, as palavras
ditas sem pensar, o desgaste, a insegurança, o amor dele por outro alguém, as
frustrações das respostas que não teve, e todas as perguntas que não fez.
E na
outra caixa que deixou aberta (só pra lembrar depois), guardou um gostar
espontâneo junto com os sorvetes de chocolate, as cartinhas, as fotos de
sorrisos perfeitos, os sorrisos bobos, a confiança, os desejos, os planos, e
todos os textos e cartas que não escreveu.
Percebeu
no entanto, que tudo que tinha eram apenas a vontade de recomeçar, algumas
palavras e um sentimento esquisito que insistia em acompanhar a mudança.
E
isso era tudo que lhe devolvia a vida, essa vontade de recomeçar.
E
essas coisas todas pra dizer, que ela insiste em ter e em ser feliz.
E
que anda pensando em escrever e dar sentido as palavras na esperança de que
entenda ou de que ela consiga enfim, guardar tudo nas caixas, assim como fez
esta manhã.
- A.Gouveia