...
ali, a alguns quilômetros de distancia, depois do número 20, ela encontrou um
lugar tranquilo pra pensar.
Ela,
que havia aprendido a não viver de metades, já não reconhecia os inteiros.
Arriscava
viver como se nada faltasse.
Chegou
a pensar que talvez estivesse na vida errada.
E que arriscar
ou não, terminaria levando ao mesmo vazio.
...
vazio de alma, vazio de amor, vazio de um monte coisa.
Mas
ela sorria pra quem quisesse ver.
E chorava,
mas não gostava de falar como as coisas realmente estavam.
Ali, sentada
a quilômetros de distância, ela encostou a cabeça embaixo da árvore e suspirou.
Suspirou
pra aliviar o peso das costas, pra tentar fugir desse preto e branco, pra
tentar sonhar um sonho bom e retido, pra não repensar nos caminhos que
escolheu.
Ela doía
por dentro, mas era difícil perceber.
E se permitia
sofrer por dentro, chorava de vez em quando e continuava fingindo não sofrer.
Isso
ela sabia de cor.
Teve
vontade de cessar algumas vezes.
Mas se
não saísse para ver beija-flores todas as manhãs, só veria a primavera outra
vez daqui 365 dias.
Por
isso ela decidiu ficar de pé.
Por
isso ela vestia um sorriso bom de se ver, mesmo chorando por dentro.
Por
isso ela decidiu jogar fora seus textos e começou a colecionar solidão.
Era
outono quando tudo foi embora.
Agora
já é primavera e tudo! e quase nada...
...
mudou.
A.Gouveia