Dizem que nasceu antes do tempo, numa dessas
noites bem frias de agosto, em que não se consegue sair de casa sem casaco para
proteger o corpo. Não havia estrela no céu. Assim como também não havia solidão
nos olhos ou palavras que fizessem algum sentido. Cresceu assim. Preferia que
fosse verão, claro, mas como costumava dizer, “a gente não escolhe quando
chegar e nem tem coragem suficiente pra decidir quando partir”.
Nunca foi de reclamar da vida,
nem foi de criar muitos sonhos ou expectativas. Gostava mais de agir, superar,
se permitir ser, e ser. Era feliz de um jeito meio torto e só. Quando criança,
não pensava em envelhecer. Achava realmente que era o Principezinho, e que sumiria ao invés de morrer, apesar de nunca ter tido medo disso. E foi se permitindo ser, deixando o caminho ser traçado, no
compasso dele, com todas as conseqüências e docilidades que isso pudesse trazer.
Era dessas pessoas que carregam um peso enorme nas costas e vive sorrindo. Aprendeu a sorrir arrancando sorrisos de onde só havia tristeza, e era feliz por semear o riso. Mas era dessas pessoas que costuma
chorar em público e que carrega a ternura nos olhos. Não tinha pressa de viver,
era sempre em passos leves, até porque sabia que quanto mais adiasse a
vida, acabaria mantendo distancia do amor, da dor, do fim.
Tinha
dias, no entanto, em que o coração entristecia e queria partir. Ir pra qualquer
outro lugar que pudesse lhe trazer alguma novidade.
Perto ou distante. Não importava. (A.Gouveia)
Continua...
♪ ♫ ♩ ♬ Uma canção pra acompanhar o texto.